segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Kim Cooper & David Smay (ed.): Bubblegum music is the naked truth (Feral House; 2001)

Um livro que promete muito e oferece quase nada. Lembra estruturalmente os volumes da RE/Search mas é uma chatice pegada de tão atabalhoado e repetitivo que é. Para dizer que graficamente é muito feio, especialmente para um livro que trata de música (tão) cheia de açúcar e cores. A grande teoria deste livro é que sempre haverá música caramelizada que se pegam aos dentes de qualquer outra música "séria" e "adulta". Se há Rock'n'Roll haverá uns Monkees, se houver Grunge haverá uma Sara Debell - ou melhor, uns Backstreet Boys. Porquê? Porque nenhuma criança vai curtir barulheiras e temas sórdidos (drogas, depressão e destruição), logo, na indústria fonográfica haverá sempre um grupo de empresários a recrutar produtores musicais de topo e uns putos ranhosos para serem as suas putas. E de preferência - houve uma altura - se a "banda" não tiver cara porque é uma máscara (Banana Splits) ou um desenho animado (The Archies) ainda melhor. Não só se pode nos EUA ter a "banda" a tocar em estados diferentes ao mesmo tempo, como ainda se pode despedir quem se porte mal no conjunto e não há reivindicações artísticas nem divas.
Começado nos anos 50 pelo facto de haver um "baby boom" cheio de massa para gastar em brinquedos e discos, a "Bubblegum" é o Pop criada em fábricas e que teve o seu zénite até aos anos 70, tendo depois transformado em mil e outras coisas tal como toda a música se foi metamorfoseando pelo mundo fora - até o festival da Eurovisão é aqui analisado com um artigo bastante divertido. O caso mais grave será o facto de alguns artistas a partir dos anos 80 tanto namorarem um público adolescente como um "adulto" como o caso de Madonna, embora no livro analise-se algumas das inocentes letras e tiram-se insinuações sexuais delas - se bem que um gajo pode ver pénis e vaginas em tudo o que a Humanidade criou, das tomadas eléctricas à "cu-linária", cof cof. E claro, os escravos do Bubblegum sofrem uma série de patologias sexuais: Garry Glitter e uma dezenas de deles ligados a pedofilia e abusos sexuais, o caso do mega-freak Michael Jackson (Jackson 5) ou Britney Spears Oops, I did it again...
O mais interessante do livro é quando faz relações com este tipo de produções com a "música séria" como o caso do Punk, em que Ramones e Blondie são várias vezes referidos como casos Bubblegum. No primeiro caso, a relação é feita pela simplicidade dos temas, pelas onomatopeias nas letras e também a sua infantibilidade do "eu gosto disto / eu não gosto disto". Não será caso de choque uma vez o Punk é um filho bastardo da cultura Pop, em que sempre pegou nos produtos de mais mau-gosto que a sociedade produziu (BD popular, "soap-operas", série B) para os reciclar ao seu (outro mau) gosto. Ou, uma vez que "punk" não significa uma coisa mas muitas ao mesmo tempo, e no caso dos Blondie, a crítica ao "american way of life" em que Susie And Jeffrey é um dos grandes temas, como poderia ser feito senão com a produção mais pastilha-elástica possível?
Livro semi-inútil tem o bónus de lá se encontrar o Peter Bagge (autor da série de BD Hate, caricatura do Grunge) a defender uma lista de Pop xunga (desculpem, a Bubblegum do final do milénio) que ele e a sua filha ouviam na altura - inclui as Spice Girls que ele defende fortemente. Convenhamos, quem resiste ao balbuciar de Wannabe?
Ou o que dizer das "nossas" Doce? Hum!?

Sem comentários: