segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

EGOtripping 3



O estilo das pranchas é decididamente punk: os desenhos são horríveis. «Epá, eu não sei desenhar, mas também não preciso», diz ele. É só meia verdade: assim como se compram calças rasgadas e se despenteiam artisticamente as cabeças, o Farrajota faz questão que os seus bonecos sejam feios.Quando um sai bem, chateia-se. Folha embrulhada em bola e nova imagem vai surgindo em substituição, mais tosca. Marcos Farrajota é a reincarnação de Francis Bacon, com a diferença de que, se este veio afrontar os presunçosos meios das artes plásticas, o português parece ter como missão chagar a tonta e alegrinha cultura pop.Não conheço ninguém que tenha como maior ambição piorar em vez de melhorar, só esta ave rara. Coisas bonitas são para betinhos, acha. Presumo que seja um trauma, pois o rapaz cresceu em Cascais. (...) Anti-BD à Tintim e anti-DJ de “entertainment”. Assim é o Farrajota, situacionista discordiano que incomoda mesmo os anarquistas cá do burgo. Aliás, a sua própria aparência forja o desengano. Se olharem para ele vêem o cabelo e as patilhas de Wolverine, mas não só não lhe saem lâminas dos braços como desdenha dos super-heróis da Marvel.Ele é ainda mais «trashy». É mais «arte povera», mais arte bruta, um Dubuffet alfacinha dedicado aos valores especiais do autodidactismo, da ingenuidade e da idiossincrasia. É isso que o torna tão cativante. Dizia o francês, em tradução livre: «O normal é psicótico. Normal significa falta de imaginação, falta de criatividade. A razão que se lixe. Precisamos é do mais elevado nível de delírio.» Temos o Farrajota para isso, e bem que a música necessita deste par de ouvidos com ligação directa aos olhos e a um lápis. Rui Eduardo Paes

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