quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Last night the DJ saved my... my... my... ehm... hum... (reprise)

De facto não tenho tido paciência para escrever sobre música. Isto em meses que comprei mais músicas alguma vez na minha vida! Estranho não é? Ainda por cima chegando-me às mãos discos novos de Mão Morta, Allen Halloween, Nerve, Die Antwoord,... Talvez porque estou a ficar velhinho e já não me impressiono com mais nada sonoro, talvez porque ando deprimido pela minha querida gata Lucifera ter desaparecido na boca de cão ou porque estou cheio de trabalho e não dá para escrever sobre dezenas de discos que não me bateram pura e simplesmente... Não sei! Agora que já despachei parte do que menos me interessavam, vamos lá a isto! Começo pelos "electrónicos", daí a reprise do título!

Começo pelo Matthew Herbert e o seu badalado Plat du jour (Accidental; 2005), disco em que aborda a indústria da alimentação e todas injustiças sociais e económicas que esta cria, já para não falar dos danos à saúde. A capa do disco - que parece mais um livro do que um CD - tem cores baseadas nos colorantes colocados na comida. O resultado é parece-nos tudo "sexy" e atraente ao olho como as embalagens no supermercado. Até que lê-los os químicos cancerígenos nos ingredientes e tudo se torna repugnante. A música e a embalagem deste disco tem o mesmo resultado. Herbert faz uma música fria e minimal usando sons "concretos" como pessoas a dentarem maçãs, batidas em latas de refrigerantes, sons de porcos e galinhas em cativeiro, a água dos esgotos de Londres... o tempo das músicas ou os seus BPMs são feitos de estatísticas - os 85 bpms em Fatter, slimmer, faster, slower é porque 85% de jovens britânicas com menos de 13 anos já começaram a fazer dietas. Tudo é estruturado de forma tão tecnocrata como o mundo que vivemos e precisamos para cada música ler os textos explicativos como acontece com as peças de arte contemporânea e as suas úteis folhas de sala (senão não percebemos porque está um pedaço de lixo no meio da sala de exposições, né?). Como acção artística parece-me combater o fogo com mais fogo e sinceramente, além de ter ficado com o estômago revoltado a ler a merda tóxica que todos nós comemos, apetece é passar o disco a outra pessoa...

Invisible Soundtracks, Macro 2 (Leaf; 1998) é que se pode dizer "é tão 90s" nem que seja pelo facto de usar os 80m do CD... É uma colectânea de música electrónica em que os projectos criam bandas sonoras para filmes inexistentes, segue na essência uma linha de bom-gosto dessa década para o bar de criativos que tinham aqueles Macs com ar de televisão. Beats de Hip Hop, lógicas de Techno e Dub, quase tudo certinho, agradável e "trippy"(hop).
Acho que em 1998 não teria paciência para ouvir isto mas agora que os bares de Lisboa dividem-se o seu som entre o House merdoso e a Nostalgia (Pop dos 80, ou pior, Rock Garages), sem dúvida que este cosmopolitismo dos anos 90 é uma bênção!
Nomes conhecidos aqui To Rococo Rot, Laika e Paul D. Miller mais conhecido como DJ Spooky That Subliminal Kid - que só neste mês percebi que é uma citação de um texto do William Burroughs!


Os Durian Brothers não são irmãos da mesma genitália do pai e da mãe mas são sem dúvida irmãos de alma para estarem tão empenhados em fazer uma espécie de "techno minimal" (não é!) com sons que fazem lembrar uma tribo perdida que ficou electrificada de repente - uma espécie de Konono nº1 da Lapónia.
Falta Magia negra para ser mesmo bom como se pode verificar no EP Cubs (Diskant; 2009) porque são alemães que aposto que só devem dançar se tomarem MDMA ou cervejas no Oktober Fest. Mas o som (a ideia) é fascinante para os ouvidos, e não eles não usam paus para fazer música mas sim dois gira-discos (sem discos) e uns pedais de efeitos. Graças a isso soam a étnicos, objectivo máximo da nossa civilização ocidental nos tempos que correm. Cool shit!


Que dizer do último disco de End? O seu disco de 2004, The Sounds of Disaster, é capaz de ser um dos melhores discos algumas vez feitos neste planeta. E este  álbum The Dangerous Class (Hymen; 2009) segue as suas pisadas mas falta algo. Falta o caos!
A mistura de Breakcore / Breakbeat com músicas retro-garage-lounge-big-band continua a ser divertida mas falta mais Noise, algo extremo ou simplesmente inesperado. Entre sons que lembram o 007 e diálogos no tom de Reefer Madness o tema deste disco são as drogas e excessos das gerações de hedonistas no mundo Ocidental. Se calhar o disco tem de ser histriónico por causa do tema e nunca poderia ter uma elegância e emotividade como o Foetus no seu projecto "industrial-lounge" Steroid Maximus - projecto que se pode comparar com End tendo até JG Thirlwell (Foetus!) feito uma "remix" para ele. Ainda assim é um disco que serve para uma festa de malta que curte música rápida e pesada mas com um gin tónico todo pipi na mão... Peso gourmet, topas?

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Arabic Punk não é para ímpios

Escrevi esta resenha em Agosto do ano passado, bem que desejei ver estes tipos no Milhões de Festa mas foi cancelado e hoje, finalmente, vai haver festa na ZDB! Ah no Porto, quem fez o cartaz do concerto foi o Dr. Uránio (o que fez as capas dos últimos três Mesinha de Cabeceira!).



Há quem diga que a música árabe só deve ser apreciada ao vivo. Talvez por isso muita dela editada em disco são gravações ao vivo. Topa-se a emoção e pujança de uma performance em directo dos deuses Om Kalsoum ou Farid Al-Trash com o público a arrotar postas de pescada, a puxar pelos artistas, a participar na catarse colectiva,... Mas também percebe-se isso em E.E.K. e o LP Live At The Cairo High Cinema Institute (Nashazphone; 2014), projecto de Islam Chipsy que toca sintetizador e de mais dois bateristas, embora a barulheira é tal que mal se ouve o público. O que se ouve é um power-trio (e que power, grande Alá!) que improvisa em palco arabic-punk! Punk que já não se vê no Ocidente, doideira a lembrar os ritmos "Electro" de Omar Souleyman ou Jibóia mas em orgia total de festa e improvisação que a gravação de 2011 capta numa perfeição "lo-fi".
Estes egípcios são loucos!
Por acaso, este sistema "festa ao vivo que se lixe tudo e todos" dá no que pensar quando se vê ao vivo os Flamingods (das realmente boas surpresas do Milhões 2014) e depois quando se ouve o seu LP Sun (Art Is Hard Records; 2013)... pois é, deviam era ter gravado ao vivo!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Deus 'tá-se a cagar pró Free Dub (etc...)

foto de Rudolfo
Convenhamos, toda a gente está... tirando a malta da música...
Compra aqui para contrariar Deus!

sábado, 10 de outubro de 2015

Mercantologia 8: Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology


Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology
de
Marcos Farrajota
Oitavo volume da Colecção Mercantologia, colecção dedicada à reedição de material perdido do mundo dos zines.
80p. 15 x 21 cm
666 exemplares
ISBN: 978-989-8363-34-3
PVP: 10€ (50% desconto para sócios, jornalistas e lojistas) à venda na Chili Com Carne, a partir de dia 10 de Outubro na Mundo Fantasma, BdMania, Letra Livre, Artes & Letras, brevemente na LAC, El Pep, Matéria Prima,... seguido de FNAC, Bertrand,...

Eis a terceira compilação das BD's autobiográficas de Marcos Farrajota depois de Noitadas, Deprês e Bubas (2008) e Talento Local (2010) ambos pela Chili Com Carne nesta mesma colecção. O novo livro Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology reúne material disperso em várias publicações - incluindo o livro do DVD do 15º Steel Warriors Rebellion Metalfest mas também em vários zines e revistas como Cru, Prego (Brasil), Pangrama, Stripburger (Eslovénia) e ainda antologias de países começados por "s" como a Suécia ou a Sérvia!

As Bds que se encontram aqui são cada vez menos os episódios mundanos como noutras BDs de Farrajota para dar primazia a ensaios críticos sobre a cultura portuguesa e subculturas underground... Talvez por isso que só agora é que são compiladas as míticas tiras da série Não 'tavas lá!? que fazem crítica aos concertos assistidos pelo autor publicadas na mítica Underworld : Entulho Informativo e vários outros zines e revistas. Podem encontrar nestas tiras bandas famosas como os Type O Negative ou Peaches, de culto - Puppetmastaz, Repórter Estrábico ou Dälek - como algumas "fim-da-linha" como os Dr. Salazar (quem?), para além de ainda relatar conferências (Jorge Lima Barreto), museus e instalações sonoras (MIM de Bruxelas ou MACBA de Barcelona) mostrando um gosto ecléctico mas sobretudo amor à música.

O livro vai ser lançado em Outubro, primeiro numa exposição homónima na Mundo Fantasma (10 de Outubro, às 17h) e outra no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, no âmbito da exposição SemConsenso a inaugurar no dia 31 de Outubro.

Ah! E o Rudolfo vai participar no livro... com aquela BD sobre drogas que saiu no Prego e com o design da capa/contra-capa!

...

sobre o autor: Marcos Farrajota (Lisboa; 1973) trabalha na Bedeteca de Lisboa tendo sido responsável por várias publicações e eventos como o Salão Lisboa 2003 e 2005. Faz BD e fanzines desde 1992 quando criou com o Pedro Brito o zine mutante Mesinha de Cabeceira que ainda hoje edita (26 números). Criou a editora MMMNNNRRRG "só para gente bruta" em 2000 mas antes fundou a Associação Chili Com Carne em 1995.

Participou em vários fanzines, jornais, revistas e livros com BDs ou artigos sobre cultura DIY e BD: Publish or Perish, Amo-te, Osso da Pilinha, Stereoscomics (França), Milk & Wodka (Suiça), Prego (Brasil), Cru, White Bufallo Gazette (EUA), Shock, Blitz, Free! Magazine (Finlândia), Bíblia, V-Ludo, Umbigo, Pangrama, Stripburger (Eslovénia), Pindura (Brasil), My Precious Things, Banda, Page, Biblioteca, La Guia del Comic (Espanha), Quadrado, Underworld / Entulho Informativo, Zundap, Inguine Mah!gazine (Itália), Splaft!, Kuti (Finlândia), š! (Letônia), Hoje, a BD - 1996/1999 (Bedeteca de Lisboa), Crack On (Forte Pressa), Tinta nos Nervos. Banda Desenhada Portuguesa (Museu Berardo), Boring Europa (Chili Com Carne), Futuro Primitivo (Chili Com Carne), No Borders (Alt Com), Sculpture? (Cultural Center of Pancevo), Komikazen - Cartografia dell'Europa a fumetti (Edizioni Del Vento), Metakatz (5éme Couche) e Quadradnhos : Sguardi sul Fumetto Portoghese (Festival de Treviso).

Criou e escreveu a série Loverboy (4 volumes) com desenhos de João Fazenda, tal como já escreveu BDs para Pepedelrey, Jorge Coelho e Fábio Zimbres. Tem feito capas, cartazes e BD's para bandas punks e afins: Acromaníacos, Agricultor Debaixo do Tractor, Black Taiga, Censurados, Crise Total, Çuta Kebab & Party, Gnu, Gratos Leprosos, Ideas For Muscles, Jello Biafra, Lacraus, Lobster, Melanie is Demented, Peste&Sida, Rudolfo, Sci-Fi Industries, shhh..., Sunflare, Vómito e Whit. Organizou ou fez parte de organização de vários eventos como BD & Cafeína - performance de 24h (1997), Feira Laica (2004-2012), Pequeno é Bom (2010),... Bem como de acções de formação (Ar.Co, IPLB,...), colóquios, um programa de rádio - o Invisual (Rádio Zero, 2008-09) - e sessões de unDJing tendo já "tocado" (pffffff) nos Maus Hábitos, Festival Rescaldo, Jazz em Agosto, Bartô, Sabotage Club e Damas.

Já participou em algumas exposições de BD sobretudo colectivas - sendo de salientar a Zalão de Danda Besenhada, o último salão dos independentes na Galeria ZDB (2000), LX Comics 2001 na Bedeteca de Lisboa (2000/01); Mistério da Cultura na Work&Shop (2008) e Tinta nos Nervos na Colecção-Museu Berardo (2011); bem como em vários festivais: BoDe, Xornadas de Ourense, Salão do Porto, Salão Lisboa, KomikazenMAGA e BD Amadora.

Exposições individuais só houve uma, Auto de Fé(rrajota) na Biblioteca da Universidade de Aveiro (1998), e é por isso que o autor aceitou com muito gosto e lágrima no olho ao desafio de mostrar originais seus (horríveis e em visível degradação perversamente antecipada) na galeria da loja Mundo Fantasma - um grande chi-coração ao Zé e ao Júlio!

Estava previsto um "stand up comedy" para a inauguração mas o autor não foi rápido o suficiente para preparar a peça! Shame on tha nigga!


Bibliografia: É sempre tarde demais (Lx Comics #2, Bedeteca de Lisboa; 1998), Loverboy (c/ desenhos de João Fazenda, 4 volumes, Polvo, Chili Com Carne; 1998-2001, 2012), NM2.3: Policial Chindogu (c/ desenhos de Pepedelrey, Lx Comics #9, Bedeteca de Lisboa; 2001), Noitadas, Deprês & Bubas (Mercantologia 3, Chili Com Carne; 2008), Raridades, vol.1 (c/ arg. Afonso Cortez Pinto, Zerowork Records; 2009); Talento Local (Mercantologia 4, Chili Com Carne; 2010), 15º SWR DVD (SWR inc.; 2013).


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FEEDBACK: Toast!!!And the Jamaican use of the word refers to "extemporary narrative poem or rap" like in reggae music, but toast also means a call to drink's at somebody's health or good news. In our case, the release of the Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology book !!! DJ Balli ... UAUH..... respect.... 666 exemplares? o must :-) Luís Lopes ... 

Melhor capa de disco Grind



Feira da Vandoma, Porto, 10.10.15. 11h.
A gorda de branco é a mãe ou responsável de educação. Uma foto com ela a puxar o carinho é que seria A capa Grind mas com medo de represálias físicas não deu para fotografar de frente.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A gata desaparecida



Estradasphere : Palace of mirrors (The End; 2006)

Os norte-americanos Estradasphere querem ser muita-malucos... No seu primeiro álbum metiam no livrinho do CD umas "cheerleaders" do Black Metal e a banda apresentava-se de branco-virginal como se fosse uma "boys-band". No Quadropus (Mimicry; 2003) os elementos da banda eram desenhados como super-heróis-músicos com um grafismo horrível, diga-se de passagem, à lá "comic-book".
Em 2006 apareceram como se estivessem num disco de espionagem, com uma inexplicável e fragmentada fotonovela no livro do CD e com pinta "retro", claro está. À primeira audição este disco lembra o que os Secret Chiefs 3 fizeram mais tarde com num álbum como Tradicionalists, não fossem as relações entre estas duas bandas bastante promiscuas. Lembra isto porque também os Estradasphere passaram a um registo meramente instrumental devido à saída do vocalista da banda. Fundem "toda a música do mundo" com as ciganices klezmers, Death, Funk, Surf e música de banda sonora para filme inexistente entre Morricone e Rota. O virtuosismo é máximo. A produção também. O resultado é Musak Metal para quem ainda hoje pensa nos Mr. Bungle.

Para a Lucifera (2009-2015)