sábado, 5 de setembro de 2015

Punindo a autoria


Author & Punisher : Ursus Americanus (Seventh Rule; 2012)

Lendo o número de Agosto da Terrorizer e ouvindo os seus 2 CDs de oferta chega-se à triste conclusão que o Metal está morto. Ou se reduz a nostalgia - em Portugal é de acompanhar o excelente trabalho de recuperação de bandas nacionais pela Chaosphere como a edição que comemora os 20 anos da Era do Abutre dos Filii Nigrantium Infernalium - ou a derivações e fusões de subgéneros num jogo comercial de fazer corar os gangstas do Hip Hop - estratégias mais do que explicadas em Retromania.

Como diz Attila Csihar numa entrevista: When I heard the first songs from the De Mysteriis album, it was so new and even more extreme because the drumming was faster than anything I had ever heard before, and the music, the riffing, and everything was just new. Add to that the fact that we were kids, so people went crazy (...) The whole world, a little bit, ended up shifting into this extremity not only for music but I think also in cinema or in fashion or video games. They go more and more extreme, at least technically. They’re more fucked up. But there is also a limit, I think, to how far you can go. There is a point where you flip over. The energy has a peak. It’s sharp like a blade. If you go further than that peak or the tip of the blade, it grows less strong. It weakens.

Ouvindo os CDs da revista ou inspecionando uns "youtúbaros" das bandas que são escritos artigos, a sensação é que não há nada há de novo neste género músical e que os limites do som, velocidade e agressividade já chegaram ao topo da montanha. Lá de cima olha-se para baixo para ver a paisagem arduamente conquistada e está tudo enevoado... tanto esforço físico e técnico para nada... O mais interessante do "metal" têm sido as suas expansões para outras áreas como o Free/Improv - de resto é uma ideia velha se pensarmos em Naked City ou Praxis embora o disco de Jazkamer de 2006 ainda faz sentido em 2015!; ou ainda para o neo-primitivismo dos sunn0))) ou dos Neoandertals; ou juntar-se à música electrónica onde a maior parte das inovações sonoras ainda são aí feitas. É o caso deste Author & Punisher, um americano cromo que cria as suas máquinas de barulheira, e que descobri na publicação. 

Para dizer a verdade de Metal nada têm a não ser porque percorre o seu circuito de difusão - o seu último álbum foi editado pelo Phil (Pantera) Anselmo, por exemplo. A&P pratica o "transhumanismo", o que sempre faz mais sentido fundir o corpo humano com as máquinas do que ser um humano sem alma a tocar como uma máquina oleada como soam as bandas de Death, Black ou Metalcore de agora. As máquinas que criou fazem percursões, disparam drones, manipulam a voz do seu criador e não tocam guitarras (ops!). É "Dubstep para metaleiros" ou a versão funcional do Survival Research Laboratories, o que alguns "industrialitas" poderão desdenhar como "Industrial para costureiras" a julgar pelas performances ao vivo em que soa mais a Post-metal, a lembrar a lição sobre música industrial (não o género mas a fábrica ocidental da Pop music) que o concerto dos Laibach deram no final do mês no castelinho "queer" de Leiria: estamos em 2015, o Dubstep e os "Ídolos" são a marca-de-água destes tempos, há que explorar o filão e desviá-lo para outro caminho.

A&P neste LP dedicado ao urso norte-americano não está no barco de 2015, ainda está numa linha para fãs de The Bug actual ou remixes de Godflesh. Talvez se tenha estragado ao entrar no comércio "metaleiro-melódico-melodramático", o que é uma pena. Este álbum é ar fresco para metaleiros quarentões que não vivem com cadáveres putrefactos na sua cave - isto a propósito desta imagem.

Já agora, em Portugal com a sua distância e personalidade própria há o muito interessante Atilla que se aproxima deste "neo-electrónica-metal" para não se pensar que sós Gringos é que são os gajos que inventam tudo ou que os portugueses são uns fatelas que se pintam de "corpse-painting" para ouvirem no quarto os seus discos quando a cena é que era!

Seja como for, o Metal morreu!
Viva o Metal!