segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ursula K. Le Guin : "Os Despojados - Uma Utopia Ambígua" (Europa-América; 1983)

 Há mais de 15 anos que tinha lido um destes volumes - o primeiro creio - e até pensava que só havia um volume porque os anormais da Europa-América na altura despadaçavam os livros em vários volumes para ser mais próximo dos bolsos mitras portuguesas de 1983. Lembrava-me que o livro dava algumas estocadas na Anarquia, sistema social com o qual começava a desacreditar e a criticar no meio codificado dos Punks portugueses, curiosamente foi através de um publicista brasileiro que começei a ler literatura anarquista e não pelos meandros "underground".
Passados estes anos todos fui comprar os dois volumes aos leilões virtuais que existem por aí porque encontro-me a ilustrar textos sobre "Música e Anarquia" do Rui Eduardo Paes para um próximo livro a editar pela Associação Chili Com Carne. Não esperava reler (ou seria melhor dizer reler e completar?) este livro e achá-lo tão poderoso a nível de ideias. Através de um físico dissidente somos colocados a assistir as falhas de duas sociedades, uma parecida à Terra com as suas divisões de poder (sistema capitalista e um comunista à maneira da Guerra Fria ainda vigente em 1974 quando a autora escreveu o livro) e uma Lua com o sistema anarquista. São relatados os horrores (e alegrias) de cada um dos sistemas intercalados em capítulos sempre com Shevek (o tal físico) como unidade narrativa presente que irá desencandear abalos em cada um dos sistemas.
Brilhantemente bem escrito, em que a teoria anarquista é explicada em forma de ficção, Os Despojados, no "final-moral-da-história" mostra-nos que as ideias são as coisas mais importantes que temos, que nos contaminam as almas e que não podem ter proprietário. A prova disso é este livro, que anos depois de eu ter esquecido sobre a importância da Anarquia voltou a reatar-me por este tema tão actual e quente nos dias que correm - claro que o dispositivo real desta metanoia foram os textos do REP.
É importante voltar a falar e aplicar os princípios anarquistas porque apesar de toda a gente andar a discutir sobre meios alternativos ao capitalismo e ao sistema monetário parece que é preciso voltar a inventar a roda quando esta já circula desde 1840 - até parece que se esqueceu de usar a palavra, como é o caso dos filmes Zeitgeist. Pelo menos neste livro não há medo apesar das aterradoras capas... é realmente uma inspiração!

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