segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Magius : "Black Metal Cómix" (F.O.G. Cómix; 2012)

Há obras que se seguem com as movidas musicais e esta é claramente uma delas. Se os Fabulous Freak Brothers de Gil Shelton era Rock psicadélico, se Love & Rockets dos Hernandez Bros era Punk californiano, o Peter Pank de Max sobre a movida espanhola, o Hate de Peter Bagge era sobre o Grunge, se Loverboy de Marte e João Fazenda (olha a modéstia, cabrão!) era sobre o Indie 'tuga (coisa que não existiu mas que se fingiu seja na ficção da série seja na realidade), se Psychowhip de unDJ GoldenShower e JCoelho (isso é coisa pouca para te auto-citares, ó rabeta!) é sobre o Rock industral, Sicotronic Records de Miguel Angel Martin é sobre Harsh Noise, ufa!... Então, Black Metal Cómix de Magius é sobre... BLACK METAL, claro!
Trata-se de um volume auto-editado de 208 páginas A5 dos fanzines homónimos publicados entre 2001 e 2012 em que Magius em curtas BDs vai contando a história mórbida do Black Metal com um "alto-relevo" para a cena seminal norueguesa, em especial para a banda Mayhem e o seu fundador e instigador da cena Black, Euronymous (1968-1993), que é a capa do livro. Não esquecendo que Euronymous foi morto pelo Varg Vikernes (na altura auto-intitulado de Count Grishnackh, mais conhecido pelo influente projecto Burzum), estes queimaram dezenas de igrejas (a única coisa boa da cena Black Metal), Euronymous fotografou o corpo do vocalista Dead (1969-1991) após o seu suicidio com um tiro de espingarda na pouca mioleira que devia ter, usou essas fotos para um "bootleg" da banda e segundo consta, oferecia restinhos do craneo do Dead em forma de colar de pescoço às pessoas que ele achasse merecedoras do seu respeito. Tudo isto soa "a BD" ou a desenhos animados escatológicos do tipo South Park mas não! Tudo isto foi verdade nos primórdios dos anos 90 e talvez porque a realidade ultrapassa sempre a ficção, todo o livro é feito com um "comic relief" para não entrarmos nas profundesas destes putos estúpidos noruegueses.
Por falar em South Park, a abordagem é realmente idêntica no que diz ao movimento dos corpos, uma vez que Euronymos ou o gajo de Burzum aparecem sempre como criaturas que não crescem e com os membros imobilizados (como se fossem ícones fofinhos) mesmo que estejam a fotografar - a máquina fica suspensa no ar e os braços caídos sempre imobilizados. Não se trata de uma falta de capacidade técnica do autor conseguir desenhar corpos com movimentos mas antes de gozo iconoclasta. De corrigir ainda que o autor desenha ambientes negros e góticos com bastante perícia que muitas vezes parece que são colagens ou montagens de imagens. Mas não são como o autor me chamou a atenção...
Também são interessantes as outras histórias que mesclam ficção com realidade, sobretudo quando tratam dos temas do Nacional Socialismo a que muitas das pessoas da cena Black Metal estão associadas. Estas BDs são um retrato da estupidez da cultura popular extrema, que só dá mesmo para rir! Infelizmente!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

David Soares : "Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes" (Saída de Emergência; 2012)

David Soares não pára! De performances spoken word a discos, de livros para a infância a livros de BD, agora este de ensaios, o homem está possesso!!! E damos Deo Gratias a isso, não é todos os dias que podemos ter acesso a livros novos de alguém que estimula a inteligência aos (seus) leitores. No caso deste novo título então, a bandeja de conhecimento é nos oferecida de forma simples e com algum humor negro.
Seja sobre Nazis, como foram criadas as câmaras de gás, bruxas, vampiros, a palavra badagaio, a autoridade, temos um rol de temas tenebrosos que a Humanidade criou em toda a sua História, toda ela corrompida por deturpações, mitos e mentiras pelos "Vencedores da História". Felizmente aprece Soares com espada de luz e erudição como aliás ele já o fazia nos seus blogues oficiais... E curiosamente do último blogue, já com a papa toda feita, Soares aproveitou apenas um texto ou outro. A maioria do livro são escritos inéditos invés de ter ido repescar ao passado como muita gente faz. É de se tirar o chapéu!
Só falta audácia gráfica no livro que funciona demasiado em chapa cinco - texto corrido, fotografias com legendas - tudo sem sal. Os Designers poderiam aprender muito com as composições das BDs para paginar livros. Ou então o Soares devia escrever um livro sobre isso para eles perceberem de vez!
De resto, se David Soares fizer disto uma série de livros será bem positivo. O Compêndio não é um livro "light" de graçolas (escrito por algum parvalhão mediático, por exemplo) mas também não é um manual científico de arrasar a mioleira ao pobre comum dos mortais. É um interessante apanhado de boas histórias de Alta Cultura e Baixa Cultura que Soares seleccionou para nos entreter - à beira da piscina, no café da esquina a beber minis, whatever... - mas sem NUNCA cair na futilidade. Há pouca gente que nos ofereça cultura desta forma. Venham mais cinco!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Benjamin Brejon, Manuel João Neto [coor. ed.] : "Sonores : Sound / Space / Signal" (Soopa + Guimarães 2012; 2012)

Com um ano de diferença entre eles, eis dois livros que se complementam ou será o contrário? Ou não há relação possível?
A nível gráfico é nítido, o caos de Soopa (Soopa; 2011) era um assumir de uma estética do colectivo, quase uma declaração de intenções, um manifesto cacofónico impresso. Melhor ainda um mimo para quem gosta de livros... diferentes... ou até de músicas diferentes. Este novo título é um catálogo de eventos a decorrer na programação da Soopa para a Guimarães Capital da Cultura intitulada Sonores. Infelizmente mostra-se um livro pesado, institucional, luxuoso, limpinho e todos os defeitos que se quiserem apontar para os livros das instituições públicas (e privadas). É quase um novo-riquismo endérmico à portugalidade. Não que a Soopa não mereça o seu momento de "glória impressa", muito pelo contrário, e não quer dizer que o livro seja fútil - mais uma vez: muito pelo contrário. Só há aqui um primeiro choque de quem "os viu e quem os vê" pois é graficamente um objecto antagónico em relação ao primeiro livro do colectivo.
A nível de conteúdo complementam-se e até revela de forma mais clara as obsessões de Benjamin, Jonathan, Filipe & cia: a rádio enquanto shamã de fantasmas culturais e emissões obscuras; o Dub e o eco; o Amor, embora platónico, entre o foguete russo Sputnik e o Rei do Rock Elvis, que mesmo assim fecundaram a nossa cultura "trash"; o electro-paganismo; a mutação da tecnologia e do corpo humano musical;... temas recorrentes do colectivo Soopa, que são aqui mais bem arrumados para um público menos especializado.