segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Eu quero que o Fado se foda!


Nigga Poison : Simplicidadi (Optimus; 2011)

Na Sexta passada, os Nigga Poison deram um concerto na Musicbox para lançar o seu terceiro álbum. Casa semi-vazia - pudera, o bilhete era a 10 euros (?) - e mesmo com o disco gratis à entrada, não se conseguiu a festa que o disco pede. Talvez as pessoas sabem que não vale a pensa ir à Musicbox porque esta casa tem uma acústica de merda, ou porque o concerto estava marcado à meia-noite (e não haja transportes públicos para os subúrbios) ou talvez apenas porque os Nigga Poison chegaram a um disco de "terra de ninguém" que deve ter afastado os fãs de Hip Hop ao mesmo tempo que ainda não atraiu o público mais generalista. A verdade é que de Hip Hop este disco nada têm, em 10 temas encontramos dois temas de Reggae/ Dancehall, um Jungle raggazado com cítara (ripanço total a Asian Dub Foundation), três temas de Kuduro e um dancehall voodoo (Sentimentu Klaru, grande tema!). Sobra... um Hip Hop Snoopy à canzana e outros dois "normais". 
Que se lixe o Hip Hop, se só o Nerve, Halloween (álbum do ano?) e Ex-Peão conseguem fazer algo de jeito mais vale investir noutras áreas que aliás os Nigga Poison já deram entender que poderiam ser geniais - refiro-me a Ke ki rapasis kre?, talvez o melhor tema de música urbana alguma vez gravada em Portugal, perdida numa colectânea medíocre e nunca regastada pela banda noutro registo nem (pelos vistos) ao vivo. Mas ao contrário do tema referido ou outros cabo-verdeanos Blackside capazes de fazer fusão de estilos, os Nigga não conseguem sair do "cada tema um estilo musical" o que faz pensar que eles não se esforçam muito, o que é mesmo uma pena.
Nigga Poison apesar da confusón-confusón que vivem ultrapassam o último álbum de Buraka Som Sistema - não é muito dificil, o último de BSS consegue ser mais estúpido que o Kuduro angolano mesmo quando um dos BSS seja cronista no Público. Confusón-confusón, rewind. Escrevia que os Nigga apesar da sua falta de direcção conseguiram fazer um disco bastante bom com temas fortes que mostram um cosmopolitismo que não existe em Portugal de forma oficial mas que existe numa série de cidadãos.
Para quem achar isto hermético, eis uma ideia do nosso Apocalipse: este fim-de-semana o Fado foi reconhecido como Património Mundial, ou seja, teremos mais histeria oficial e investimento unidireccional neste género, reforçando o cliché que Portugal é "Fado, Futebol e Fátima". Teremos de aguentar com esta porra reaccionária e fascista porque ela será a única coisa que as editoras irão apostar, para já não falar no espaço que o género irá ocupar em rádios, TV e eventos públicos e privados. O lado urbano contemporâneo não vinga porque é como uma prostituta junkie controlada por um sistema ilusório de "star system" instigado pelas empresas de telecomunicações. Paranóia? Teoria de Conspiração? Basta observar: a TMN que tem uma sala de espectáculos em Lisboa, todas elas patrocinam festivais de música, possuem estações de rádio (!) e a Optimus edita quase todos os discos de música portuguesa que não seja o Fado. As fadistas também eram umas putas há 100 anos e agora são património mundial, teremos de esperar 100 anos para os Nigga Poison serem reconhecidos como a grande música do século XXI?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Porcalhota (3/3)


Mas as verdadeiras pérolas adquiridas na minha visita à Amadora não foram adquiridas na Carbono Amadora mas sim numa loja Cash Converter!!! Pelos vistos Lisboa é luxuosa demais para este tipo de negócio existir na capital mas num subúrbio de características pobres como o da Amadora ele é enorme - que lojão! E aconselha-se a visita para quem gosta de música africana, música essa que como sabem é escamoteada pela sociedade racista portuguesa, uma vez que a comunidade africana existe em peso naquele concelho e deve frequentar a loja para despachar CDs.
A 2 euros cada CD consegui levar sons de São Tomé e Príncipe (título do CD) por Izék Costa (Ovação, 2006), Guiné Bissau por João Rodolfo em Nha Terra (Sons D'África; 2006?) e Cabo Verde com a colectânea (?) Cabo Love / Ramed D'Amor (Islands; 1997)... CDs e músicos que não fogem ao "template" do Afropop do sintetizador para dança roça-roça. Não conseguem ultrapassar os monstros Tubarões, Bonga ou FerroGaita mas para alguém como eu que começou a ter nojo do Pop/Rock-mongoloid-Pop-Will-Eat-Itself em geral, é um bálsamo ouvir isto... Também falta a secção de metais para a coisa ser mais quente e rica. São trabalhos baratos, pensando melhor sobre o que se ouve. O mais interessante deste lote poderá ser o Rodolfo que lhe dá em ritmos afro-latinos embora a vertente "sexy" vai todo pró Cabo Love que rebola tanto que já se sabe que vai acabar em Q+A (Queca + Amor) - quantas bandinhas de brancolas do Electro têm poder Q+A? Quase nenhuma!
De resto informação na 'net sobre os músicos é impossível, como sempre, embora as capas dos discos foram bastantes fáceis de encontrar. Entretanto encontrei isto que significa o fim de uma Era na música africana:

Infecção Urinária da Finlândia (V)


É verdade que basta um “clique de rato” – já um anacronismo por causa dos botões dos portáteis – para acedermos ao Rock dos anos 60 da Coreia do Sul ou ao EBM norueguês dos anos 90 ou (inserir um género musical, uma década e uma nação) sem ter de viver no espaço-tempo circunscrito. A cultura digital permite um “eterno presente” sobre qualquer matéria mas não substitui a descoberta de objectos culturais físicos, sobretudo numa viagem ao estrangeiro. A minha viagem à Finlândia, entre Setembro e Outubro, foi uma residência artística numa terra longe de lojas ou sítios de concertos, por isso o meu consumo de música finlandesa foi homeopático. Acedi a discos quando consegui sair da residência, como por exemplo, em meados de Setembro, estive no Festival de BD de Helsínquia, a representar a Chili Com Carne e MMMNNNRRRG, e fui à Digelius sacar mais “Histeria Árctica”. Durante o Festival propriamente dito também adquiri algo mais, na tenda dos zines talvez por ser um inferno para ver as coisas como deve ser devido à pequena dimensão do espaço para tantos visitantes, acabei não por comprar BD mas CD! O que não me chateia muito, não dou tanta importância à cultura bedéfila como isso...

Comprei o primeiro álbum de Arka, Naamio (Siko Records; 2009) pelo seu aspecto curioso que acaba por ter alguma raiz Pop de bd... É embalado em cartolina cinzenta onde está colada uma mascara de ladrão ou de super-herói (tipo Robin), para sacar o disco da embalagem é preciso despregar o botão da fita da máscara. Depois disso temos música electrónica que faz passagens pelo Acid-Jazz e pelo Lounge Glitch, lembrando alguns foguetes lançados no passado como os Sad Rockets ou os conterrâneos Space Rockets – dos quais aconselho o mini-disco Bez Kalhotek. Para dizer a verdade nem sei ao certo se Arka é finlandês, quase nenhuma informação existe na internet, a pouca que há apresenta um deus sírio ou uma língua criada em 1991 para um jogo japonês. Sobre esta também existe pouca informação, apenas que é a língua com mais palavras inventadas (cerca de 15000). Arka, o projecto electrónico também é um mistério de intenções que não se porta bem na sua produção, muitas vezes colidindo com a experimentação e o psicadelismo. Não seria um CD que deixaria tocar num hall de hotel!

Supondo que Arka seja finlandês, fará sentido o tipo de som que desenvolve. A tradição de música experimental na Finlândia é longa, bem difundida (pelo menos nacionalmente), de qualidade e cheia de “heróis” ou figuras distintas como Pekka Streng (1948-1975), rapaz do campo que veio prá “grande cidade” de botas de plástico - como se identifica um finlandês numa multidão? Pelas botas de plástico! Morreu jovem, vítima de cancro, mas foi basilar no Rock Progressivo finlandês por misturar Folk, Jazz, Rock e música experimental em dois álbuns apenas, o primeiro com a banda Tasavallan Presidentti, Magneettimiehen Kuolema (trad.: A Morte do Homem Magnético) de 1970 e o segundo Kesämaa (trad.: Casa de Verão) de 1972, ambos pela lendária Love Records, foram reeditados em CD em 2003 com temas extra. Canta na língua que só 5 milhões de podem perceber, fazendo a sua percepção complicada para os outros humanos! Mas não deixa de ser uma experiência curiosa ouvir os discos mesmo não percebendo as letras. Na essência ouve-se uma música acústica, quase sempre calma e contemplativa, de texturas pastorais com rasgos de Jazz, de sons concretos e loops numa altura que não era habitual fazer loops,... sobretudo o primeiro é mais virado para experimentação e merece o seu estatuto seminal. Alguns momentos podem ser mais irritantes por alguma exaltação vocal – numa língua que nada nos diz – o segundo sinceramente mais acústico e tranquilo tem uma coerência formal que resulta melhor. Curiosamente uma das faixas tem uma letra da Tove Jansson, criadora dos emblemáticos Moomin, personagens de livros infantis e tiras de bd dos anos 50 - estas últimas têm sido reeditadas e premiadas no Canada e França.

Para finalizar, outro disco Prog de 1972, considerado la creme de la creme do género na Finlândia, a estreia homónima dos Haikara – reedição em CD pela Fazer Records, em 1998.  Também cantam em finlandês e podem ser posicionados entre os King Crimson e os Magma. Pessoalmente acho as primeiras duas faixas parvinhas por serem circenses ficando o melhor do disco nas últimas três restantes músicas que entram num registo psicadélico, com cada tema a chegar aos 10 minutos, cheio de maneirismos Jazz, numa atmosfera cool. A capa também é porreira, faz-me pensar o quanto melhor será este disco em formato LP!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Porcalhota (2/3)

Já me esquecia que na ida à Carbono Amadora houve também umas trocas que resultaram em vinil - uma cá da terra e ligada ao dono da loja - e este EP dos ingleses The Meads of Asphodel, Life is Shit (Firestorm, 2007). A banda é bem considerada pelo mundo Metal não porque use armaduras medievais, é reconhecida por ser Black Metal Prog, e em algumas faixas ouvidas em myspaces & youtubes, percebe-se porquê: Black cheio de mudanças ritmicas e a inclusão de "orientalismos" bem fundidos com o resto. 
O problema deste EP é que é uma piadita, ou seja é o EP de versões de temas Punk manhosos que não convence nem Punk nem metaleiros. Daí a edição limitada e assinada pelos elementos, provavelmente lançado pela "label" da banda. É só para os fãs que engolem tudo. Temos temas de Stiff Little Fingers, Ruts e Stranglers, ou seja, menos Punk não podia ser também. E temos ainda participações de elementos de outras bandas como um ex-Hawkwind importante e o vocalista dos japoneses Sigh. É um disco que serve para vender no e-bay.

Porcalhota (1/3)



Antes de ir prá Residência na Finlândia, decidi despachar todos os livros e discos que andaram moribundos durante "n" Feiras Laicas... E despachar não significa ir sacar guito mas sim trocar por mais lixo cultural à procura de pérolas esquecidas por todos ou apenas desconhecidas por mim. Uma das hipóteses foi a Carbono Amadora , apesar de conhecer um dos sócios - que faz parte dos [f.e.v.e.r.] - não me apetecia muito ir à Porcalhota que nem se quer para ir ao seu Festival de BD vou há 3 anos... porque infelizmente os CTT fizeram merda e da grossa com a entrega dos discos dos Çuta Kebab & Party e tive mesmo de ir lá! Levei uns quantos CDs e trouxe mais uma série de deles que mal consegui ouvir porque dias depois estava a ouvir "suomi". Eis finalmente o relatório de aquisições e por ordem alfabética:
Abe Duque : So underground it hurts (Abe Duque; 2004) estava na secção do Hip Hop sem querer e sem querer trouxe a pensar que seria isso. No no! Techno e Big Beat que poderia ter sido útil no Pinhal Novo... Quem ouve esta merda em casa? Eu não...
Beenie Man : Undisputed (Virgin; 2006) também estava na secção do Hip Hop só porque é preto mas ao menos este sabia que levava o "Rei do Dancehall"... Embora esse auto-proclamado título pudesse ser verdade há 20 anos não creio que agora ou em 2006 fosse verdade - o Sean Paul já levava o título em 2002 com o tal disco que roubei no Pinhal Novo. Disco básico com o Rei a não se aguentar nas canelas ao ponto de se rebaixar pedindo o apoio do vomitante Akon numa faixa, para além de tentar conquistar novas terras como o Reggaeton e o House manhoso sem inspiração. A melhor faixa é quando entra Lady Saw, claro, não fosse ela a... "Rainha do Dancehall"!
Chullage : Rapresálias : Sangue Lágrimas Suor (Lisafonia; 2001) E se Beenie Man é o Famous and Dandy (Like Amos and Andy), Chullage será o oposto - a "CNN dos negros"? Embalado por uma militância bacoca sobre o género musical Hip Hop e a sua cultura, acaba por criar um ponto de saturação em que por mais que a mensagem seja séria (descriminação, pobreza,...) não é possível ouvir mais do que poucas faixas. É o mal do "Hip Hop 'tuga" incapaz de inovação e de criar algo único. Pode-se criticar o sistema mas quando nos agradecimentos Deus é o primeiro a aparecer na lista, então ainda há muito caminho para percorrer... Mais um disco a evitar tal como se evita entrar num bairro social.
HawkwindUndisclosed Files - Addendum (Emergency Broadcast System; 1995) é um disco ao vivo dos inventores do Space Rock com 11 temas de dois concertos, um de 1984 e outro de 1989. Blues / Hard Rock com sons espaciais é a fórmula desta banda só cada vez que eles abrem a boca, não estamos numa nave espacial algures na via láctea mas num pub na província britânica. Farto-me de ouvir falar bem desta banda mas nunca ouvi um disco de jeito deles, azar cósmico?
Makongo : Angolan Kung-Fu (ed. de autor; 2008) foi o passo lógico depois dos Buraka Som Sistema terem inventado o "kuduro progressivo" - por acaso a Petty está neste projecto - e que acaba por ultrapassar o que os BSS fizeram nesse mesmo ano com Black Diamond. Quer o "Diamante" ou o "Kung-Fu" são histriónicos e aproveitam ao máximo o facto do mundo ter-se aberto para o "tecnho angolano" mas enquanto os BSS simplificaram a fórmula (ou para agradar as massas ou para ir mais de encontro ao Kuduro original) estes Makongo decidem ir realmente pelo "progressivo" da coisa com temas mais longos e misturadas do universo da música de dança... Não é nada mau mas parece que não tiveram sucesso - pelo menos nunca ouvi falar neles e farto de ver CDs deles em promoção. Será que Portugal ainda é racista? Hum...
They Might Be Giants : They got lost (Idlewild, 2002) e é quando reparo que a maioria destes discos foram editados pelos músicos - assumidamente como edição de autor ou com uma etiqueta! Curioso... E no caso dos TMBG até faz sentido dada a quantidade de música que eles produzem fora do mercado habitual do Pop/Rock como prova esta antologia de temas feitos pra revistas, programas de TV, um atelier de Design,... Esta é a banda que pode fazer músicas Pop sobre História, Ciência (explicar o que é o Sol é um dos seus clássicos!), Mamíferos, Classe Média ou qualquer outro tema que lhes derem - é sabido uma boa série de discos e livros para a infância feita por eles também. E se como alguém notou que esta deve a única banda que é possível fazer compilações de temas dispersos sem estragar uma coerência do disco também é verdade que os TMBG há muito deixaram de ter a piada que tinham até 1992, quando dos dois Johns aumentaram o formato do projecto para banda (ou seja como mais elementos). Desde então há demasiada guitarrada, menos esquizofenia de mudanças de ritmos e géneros, não sei como é possível mas deixaram há muito de serem (tão) orelhudos e terem o elán da juventude. Creio que foi a última tentativa de os ouvir pós-Apollo 18.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Contra os canhões murchar, murchar!


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011