segunda-feira, 29 de agosto de 2011

David Soares : "Batalha" (Saída de Emergência; 2011)

 Mais um romance de David Soares pela sua editora Saída de Emergência? Quem for cínico que diga isso, quem pegar no livro - já agora uma bela peça de Design de livro - e o ler poderá verificar que não é mais um - se é que alguma vez os livros do David Soares tenham-se repetido... Mas é verdade que este é especialmente diferente dos outros ao colocar uma ratazana em discurso directo - numa tradição literária que podemos encontrar talvez em Herman Hesse ou Jack London com "os seus lobos". O roedor anda à procura do "sentido da vida" e o maravilhoso encontro desse sentido não deixa de ser irónico porque David "vai contribuindo, passo a passo, para uma mitologia de fantástico genuinamente lusa" (João Seixas dixit). Afirmação certeira mas que deveria estar acrescentada com outra frase como o autor me escreveu no seu primeiro romance: "verdadeiramente alternativo e bruto, disfarçado de mainstream... assim posso corromper os insuspeitos!»
Nos próximos dois meses estarei pela Finlândia, os últimos dias foram de stress a arrumar malas, finalizar leituras para o projecto que irei realizar no frio... Peguei no livro sem pensar que iria acabá-lo e com remorsos que deveria estar a fazer outras coisas. Enquanto não o acabei não havia paz! O David está cada vez mais fluído a escrever que quando dei por mim tinha acabado o livro. Valeu a pena!  Eis um livro que poderá vir a ser um clássico no futuro - como os Lobos dos escritores mencionados acima. Com um David menos Death e Goth, a escrita dele cada vez tem uma abragência para "todo o público" sem ser estúpido ou infantilóide como o que anda para aí. Parabéns ao autor... como se constuma dizer "quanto mais velho..."

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Grande novela americana


Matmos : The Civil War (Matador; 2003)
WHY? : oaklandazulasylum (Anticon; 2003)

Era uma vez... vapores de peidinhos quentes cobertos pelos lençóis da manhã, o arrastar dos pés do vizinho de cima sobre o soalho de madeira, os últimos suspiros de um pombo moribundo, a língua da gata a lamber obstinadamente o pêlo brilhante, o bicho a roer a madeira da cama, o titilar do motor do Opel acabado de estacionar. Usurpados por microfones e sequenciados em laptops nos finais dos anos 90, tornou-se de forma pragmática e maquinal da lógica anglo-saxónica embutida em todo o DNA do mundo Pop, mesmo daquele que se diz "diferente". De repente o novo brinquedo do Pop era procurar o som microscópico ao ponto de Matmos enfiarem microfones em tubos digestivos de vacas para fazer microhouse - som paneleiro-lounge que se confunde com a outra grande paneleirice deste século que é o Techno minimal. Outro ser anglo-saxónico, Matthew Herbert como Radio Boy, fez coisas parecidas antes de entrar num esquema de big band e manifestos artísticos que não interessam a ninguém.
No caso de The Civil War, os americanos tentam explorar sons medievais folclóricos com "americana" e o tal microhouse. Usam sons "verdadeiros", ou seja gerados por instrumentos acústicos (como tambores e gaitas-de-foles) com o átomo digital. Glitches à parte soa a manual 1-0-1 de como fazer a coisa sem chegar a nenhum sentimento - ao contrário por exemplo do último disco dos Stealing Orchestra que partilha a ideia do som "verdadeiro" com o "virtual" - mas não a obtusidade das explorações dos sons imperceptíveis. The Civil War não aquece nem arrefece, parece uma feira medieval com nerds do Mac ao peito. É uma tentativa tão válida como a minha de conhecer o trabalho deste casal tão respeitado na música deste século. Não deixarei de tentar outro disco porque tenho boa impressão de um tema Rag for William S. Burroughs de outro álbum The Rose Has Teeth In The Mouth Of A Beast - que terei de ter a paciência de me cruzar com ele um dia destes.
Já WHY? é outra estória... É o primeiro álbum do projecto de Wolf e também o último antes de o transformar numa banda de 3 elementos em Elephant Eyelash (Anticon; 2005). Para quem gosta dos Pavement mas têm medo de Wu-Tang Clan pode vir aqui deliciar-se com a faceta delicadoce do Indie / alt country / americana disfarçada com técnicas de produção Hip Hop. A tradição de canção está aqui bem vincada, é certo que é mutante graças à tecnologia dos século XXI não faltando loops e "micro-sons" texturizados e melódicas para acompanhar a melancolia urbana. Por mais samples de carne que se une ao esqueleto destas canções o humano não se desfaz em máquina. O colectivo Anticon, que WHY? pertence, é segunda geração do som de fusão Pop/Rock com Hip Hop iniciada por Beck. Chamam-lhe de "hip hop abstracto" e é capaz de ser das poucas coisas giras inventadas neste milénio.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Carbono 14

Mais uma ida à Carbono para comprar xungaria-refundida-a-2,5-euros na dita loja. E curiosamente na zona Metal/ Dark / Industrial (está tudo assinalado naquela loja!) encontro um CD dos Genaside II. Não é a primeira vez que encontro este projecto misturado na zona "heavy" das lojas de discos. A capa, grafismo e nome da banda remetem para algo Death Metal underground mas não, é Jungle / Big Beat e onda dançável UK. Return of the Redline Evangelist (Copasetik; 2002) realmente engana muito para quem não sabe o que é, daí a necessidade de resgatar um dos projectos basilares da cena Rave / Jungle, admirados pelos Prodigy e Tricky, para o qual até gravaram um álbum. Este é o último da carreira do projecto e que infelizmente soa a "auto-vintage". Para um álbum de 2002 realmente soa demasiado a 1992, embora o projecto admita para si mesmo que é realmente "old school". São DJs / produtores e não-músicos, que pegam na jóias do passado para fazerem música funcional pela via mais festiva histriónica Ragga / Big Beat como pelo o "down" introspectivo via Dub/ Trip Hop. Não é mau para quem goste dos géneros já aqui citados mas enerva que não tenha faixas tão carismáticas como o primeiro álbum - o único que conheço. Um salto a um passado recente, não reconhecido e mal-compreendido. Vale a pena descobri-lo.
Segue-se o último álbum dos Loretta's Doll, Creeping Sideways (Middle Pillar + World Serpent; 2001) que só comprei porque na ficha técnica aparecia Orson Welles (uma obsessão da banda pelo que descobri entretanto) e Genesis P-Orridge. Som Gótico-Industrial sem no entanto se deixar encurralar por géneros - o único possível será defini-lo como Dark - apresenta-se mais estimulante do que se espera (capa, editora, caras dos bichos, vídeos) justamente pela capacidade de fazer metamorfoses electrónicas que não se estão à espera neste tipo de bandas que gostam de ser marciais e/ou indutoras de transe e meta-física do chinelo. Acho que só pelo facto de terem uma banda com nome de gaja (é sempre estranho isso, não?) é que não vou ficar com este interessante disco. 
Good as gold (Homestead; 1989) dos OWT não é bom como ouro. O duo constituído por David Leaton (bateria, eletrónicas) e Zeena Parkins (harpa, teclados) com constrangimento parecem esconder publicamente que fizeram este disco. Por acaso, até se compreende, é uma coisinha fraquita vinda de dois cromos da música. Um esquema Improv mais ou menos orientado pelo Rock, sem grandes surpresas e momentos, e nem chega a ser pica-miolos. Realmente este disco é uma nota de rodapé "mal-paginado" na secção "dark" da loja...
Por fim, o melhor do lote, outra classificação desorientada, The Hellbender Suite (Some Place Else; 2005) do finlandês Reptiljan - um dos mil projectos de Niko Skorpio. Soma de trabalhos entre 2003 e 2005, em que as vertentes mais extremas e modernas da Electrónica são aplicadas: Grindcore digital, Breackcore, Technoise, etc... havendo ainda lugar para uma inserção Dub ou Glitch aqui e ali. Não tem a qualidade de produção de Bong-Ra ou The Drumcorps, parece, até feito no PC do quarto decorado com colchas cor-de-rocha com naprons feitos pela mãezinha mas ao menos é música que não rapina cadáveres com 30 anos em cima como faz toda a produção Rock/ Pop actual. Belo erro de catalogação! Valeu a pena acertar nisto!