terça-feira, 4 de setembro de 2007

Black Nº1


Big Black: "Songs about fucking" + "The rich man's eight track tape" + "The hammer party" (Touch & Go; 1986/87)

Dizia-se que o Grunge foi influenciado pelos três "blacks": Black Sabbath, Black Flag e Big Black. Para mim os últimos são os que mais me mexeram, e ainda hoje passados mais de 13 anos quando os ouvi pela primeira vez, ouvir um disco dos Big Black ainda é uma loucura auditiva-física...
A carreira dos Big Black andou pelos anos 80, mais especificamente entre 1982 e 1987. Da banda a figura mais conhecida é o Steve Albini, reconhecido produtor de álbuns de bandas famosas como os Pixies, Breeders, PJ Harvey entre mil outras... Gravaram 2 discos geniais, Atomizer (1986) e Songs about fucking (1987) e uns quantos EP's que são compilados em alguns LP's como The hammer party ou no caso do The rich man's (...) que junta o Atomizer a um outro EP. Uma confusão do caraças não se sabe lá bem porquê a confusão editorial na discografia da banda. Mas quem tiver estes 3 CD's - um erro segundo Albini porque ele é um dogmático do vinil! - fica com tudo dos Big Black menos alguns discos ao vivo, também eles recomendáveis pela a energia e feedback que a banda transmitia. Mas nos tempos wikipédicos que vivemos o melhor é ver mesmo a entrada dos Big Black e começar já a puxar esta escrita prá lágrima, não?
My Precious Things lembra algo? Kerosene Kid? E o Loverboy? Tudo criações minhas e talvez por causa disso não muito memoráveis mas isto só para dizer que para mim nunca houve banda tão influente como os Big Black, quase são uma espécie de Deus "pagão" protector como Baco ou Apolo. My Precious Things a newsletter onde começei a escrever resenhas a zines e outras edições "indies" teve o título sacado à música Precious Things do Songs about fucking. O Kerosene Kid foi uma personagem que nunca saiu cá para fora - Pepe's fault! - baseada na inspiradora letra de Kerosene («I was born in this town / Live here my whole life / Probably come to die in this town ... Never anything to do in this town / Live here my whole life ... Set me on fire, Kerosene») do Atomizer. O "famoso" Loverboy também teve os Big Black como inspiração entre mil outras também ligadas à música, mas oiçam o Bad Penny do Songs (...) e percebe-se que o personagem foi criado para ser mau como as cobras.
Sem dúvida que Songs about fucking e Atomizer - não consigo quase distinguir os dois porque faziam parte da mesma abusada k7 de 90m que incluia ainda Rapeman, a banda-continuação de Albini - são monstros sonoros de Rock Sónico-Noise feitos de três guitarristas (1 baixo e 2 guitarras) e o Roland, uma drum-machine que era vista como mais um elemento da banda, aliás, Roland TR-606. Serão os Big Black ainda mais cibernéticos que os Kraftwerk ao assumirem uma máquina como elemento da banda?
O ritmo era acelerado-repetitivo como se uma banda de punk-besta, as guitarras que eram explosões de barulho em algumas faixas pareciam que partiam pratos litealmente. Basta ouvir uma primeira faixa como Jordan, Minnesota (do Atomiser) para perceber o que era a banda, um gozo ao interior dos EUA ou uma crítica à própria arrogância norte-americana, fragmentos de barulho e uma sensação épica-urbana. A velocidade era uma sugestão desta banda perfeita para estampar o carro na auto-estrada, uma rapidez minimal como a dos Ramones (ao vivo) e tão poderosa como os Slayer. Uns proto-Ministry, não sendo à toa que os Big Black também são muitas vezes vistos como "industriais".
Realmente a edição destes CD's lixam o som (aquilo que Albini sempre nos avisou) para além do design dos discos ficar uma bela cáca. O Songs (...) tem ainda uma versão He's a whore dos Cheap Trick para além do clássico The Model dos Kraftwerk - uma versão superior a qualquer outra que tenha sido feita até aos dias de hoje, e muitas foram as tentivas feitas. O Rich Man's (...) além do Atomizer (o primeiro disco da banda) inclui o EP Headache (1987) e o single Heartbeat (1987), o último material da banda. Heartbeat soa a "puro Nirvana" antes do tempo (associação nada estranha até se considerarmos que Albini gravou o último disco dos Nirvana) embora o tema seja uma versão dos Wire (outra associação interesante, diga-se) e o resto do material é aquela barulheira Rock que os Big Black nos habituram. Bom!
Hammer party como escrevi inclui os três primeiros EP's: Lungs (1982), Bulldozer (1983) e Racer-X (1984). O primeiro é todo ele tocado e gravado por Albini e o... Roland, a simplicidade é nítida mas marca desde logo o que virá a ser este grande monstro preto. Bulldozer tem alguns temas com bateria à sério e talvez por isso perde a pica - Was!? prrreferem ein machine!? Inclue a versão (original) de estúdio de Cables (um tema quase Oi) que saiu ao vivo no Atomizer quase por acaso - não conhecia esta versão... Racer-X é um EP bombástico por duas razões, o tema The ugly american que é o melhor dos Big Black com saxofone (há alguns temas assim perdisos em EP's) e claro, a versão marada de The Big Payback de James Brown que vale nem porque seja pela curiosidade de ver um tema do "Big Boss" transformado em white-punk-noise... Por fim, é de referir que é a única edição que vale a pena ter em CD porque o livrinho reproduz algumas fotografias da banda e um texto sempre irónico de Albini.

[um obrigadão ao Opuntia por ter arranjado estes CD's]

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