sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Quem ouve música também gosta de ler sobre música - II

E continuando a dissecação da nossa imprensa musical, não posso deixar de fazer alguns comentários aos últimos números das revistas distribuídas gratuitamente, Mondo Bizarre e Underworld / Entulho Informativo. Mais um retrato da penúria nacional.

A começar pela Mondo Bizarre que bem pode mudar de nome para "Mondo Chatice" porque é incrível como uma revista de "música alternativa" continue a usar a mesma fórmula que aplica desde o início - já tem 5 anos! Sempre o mesmo tipo de capa - fotografia promocional da banda que é usada em mil revistas e sites -, ausência de postura combatente e de originalidade sobre os conteúdos. Embora o tenham feito algum esforço nos primeiros anos, só neste último número começaram a mexer um bocadinho nas "coisas" (por ex: a secção de bd fugiu ao formato de colectânea de resenhas) mas a preguiça reina de uma forma assumida, seja pelo tipo de bandas quase todas elas Pop-punheta que promovem, que ainda por cima são igualmente promovidas no suplemento Y do jornal Público (actualmente a única publicação de música minimamente credível, em Portugal, por mais que isso doa, com mais postura "alternativa" do que estas revistas supostamente "alternativas"*), seja pelo cansaço de formato editorial (entrevista + artigo sem inspiração). Felizmente como produto final, é uma revista bem escrita e percebemos que quem escreve não é um idiota, talvez seja só escravo do trabalho, deprimido e sem sonhos. Snif!

Idiotice poderia ser sinónimo da Underworld, que nunca mais acerta no alvo por mais boas vontades hajam dos seus editores e colaboradores. Superior no aspecto de divulgar "artes" underground, em que assume páginas de bd
e de conto ao lado das bandas e discos, capas sempre feito por artistas e não com fotos de bandas, cheia de pica para fazer entrevistas "diferentes" (confronto com duas bandas, por ex.), artigos "diferentes" (sobre o myspace.com mesmo que não se perceba o que a Dora Carvalhas queira comunicar, coitada, ou sobre as revistas pulp), com fotos inéditas das bandas ou ilustração, infelizmente devido aos dissabores criados aos seus vários colaboradores através do seu editor principal, que dirige o projecto ao sabor dos seus caprichos, a revista tem se desmazelado nos últimos números, em especial neste.

JP é o dono da revista e tem o mérito de colocar o seu tempo e meios ao dispor na cultura underground - e isso é algo de salutar - no entanto, tal como o Inferno está cheio de malta de boas intenções, ele é incapaz de compreender o espírito dos tempos (un-zeitgeist-mensch portanto), esconde-se em paternalismos (é só ler algumas reviews) e pedantismos (ver a secção "Pérolas a porcos") que vão afastando os colaboradores gradualmente ao ponto de já ter afastado o Marte (com uma tira bem porreira: Não 'Tavas lá!?), Pedro Zamith, André Lemos, Júcifer e... eu - e não quero que pensem que isto é uma cena ressabiada, foda-se!

Para quem Arte é uma gótica gorda (não tentem ver a "celulose" da vocalista dos Hyubrus como Erótico ou Belo por favor!!) ou uma gótica sem talento a fazer "ilustrações" do mais básico Photoshop, então, está tudo dito... As poucas aberturas foram circunstanciais e por isso, apenas para apalpar terreno, porque o que se quer daqui é mesmo um projecto de Metal-Punk-Hardcore. O underground afinal é apenas "um" e não "o". É triste. Espero que o projecto recupere a sua aura e espírito criativo, caso contrário já podem começar a chamarem-se "Entulho Bizarro".


* Relembro "os melhores discos nacionais de 2005" era constituido quase exclusivamente de projectos "indies"... ou de um artigo sobre sunn0))) e o drone-metal aparecer primeiro no Y do que noutras publicações mais adequadas a estes terrorismos sónicos...

2 comentários:

andré lemos disse...

UI!

MMMNNNRRRG disse...

não há roupa para lavar, excepto aquela do campismo/férias... as criticas que estão a ser feitas são até fáceis de defender folheando a revista, e analisando a sua evolução (e recente involução).
De resto, já sai à 2 números por isso, não sinto nem ressabios (existe palavra?) nem nada de pessoal...
Boas férias!