terça-feira, 25 de julho de 2006

DEA report 4

E se o Samizdata Club se apresentou como um espaço ultracultural de confronto e experimentação artística e social incentivado por um colectivo de editoras discográficas, bd, produtores (...) que decidiram dar resposta a lacunas existentes no panorama artístico nacional através de sinergias e parcerias, de forma a criar uma efectiva rede de disseminação de informação por canais alternativos então tal tem realmente acontecido. Já vai na sua 8ª edição (e a segunda fora de Lisboa) e continua a mostrar que, mais importante do que as vendas nas bancas ou outros motivos materialistas, é o facto que consegue fazer com que pessoas amantes de uma cultura alternativa (expressão que uso para designar uma cultura que fuja do espectáculo pirotécnico dos mass-media) se encontrem num espaço para se conhecerem. Mesmo fora do seu habitual raio de acção - Lisboa e a Caixa Económica Operária - tal tem sucedido, como aliás aconteceu no excelente espaço que é o "estaleiro cultural" Velha-a-Branca. Há copos, há concertos, há festa e há bancas com produtos culturais. Não há forma de enganar sobre o sucesso deste evento - e o sucesso nunca poderia ser pirotécnico, claro está...

Longe das (suas) bases habituais foram lançados novas edições tão variadas como livros (Lucrécia de Rafael Dioníso pela Chili Com Carne), zines (Belo Cadáver da Imprensa Canalha - que fez também o cirúrgico cartaz) e discos, nomeadamente "Blot og Mono Middagshvil" (Thisco + Fonoteca de Lisboa; 2006) de Tore H. Boe e Anla Courtis. Apesar dos seus enormes currículos - especialmente a postura artística do primeiro que criou uma "República Virtual Artística" (vejam o link!) - o disco, um CD-EP de 20 e tal minutos e 16 faixas, parece mais um "CD-sampler de sons" do que uma obra per se. Constituído por ruídos ambientais, industriais, experimentais, e outros "ais" com cada faixa com pouco mais de 1 minuto, ficamos com a sensação que cada faixa é uma peça criada para ser um fragmento que dificilmente conseguirá associar-se aos outros. Não que isso seja mau mas também não empolga muito neste caso. [3; Festa de Troca de Discos... deve ser fixe para remisturar algo]

A cena "live" desta vez (e mais uma vez) foi com Sci fi Industries mas num "versus" com o bracarense Tatsumaki. Correu bem. Tatsumaki é mais dado a "barulhos electrónicos" o que coincidia bem com os ritmos de Sci Fi. O espectáculo foi no maravilhoso jardim da Velha-a-Branca tal como foi o resto da festa com o meu un-djing. Desta vez a experiência não foi lá muito interessante ao contrário das outras anteriores em espaços frondosos (como foram as duas tardes na Estufa Fria durante o Salão Lisboa 2005). Ou era a maquinaria que estava marada por causa das configurações anteriores do "live-act" que foderam completamente o som de Brujeria e Godflesh, ou era a ausência de reacções do público - sentado num jardim quando o que tinha era um "set" mais para um espaço fechado e para dançar. Por erros de comunicação com a organização do "estaleiro cultural" nunca pensei que ficaria no jardim... Ainda assim houve um freak que gostou dos Reagges e um grupo de pessoas numa mesa riram-se com as versões foleiras de Richard Cheese a Nirvana («this one is for the ladies... Rape me») e Radiohead.

Inesperado o encontro de um tipo que conhecia o Filipe dos I.M.M. (Industrial Metal Machine), uma banda de Braga cujo o nome rotula completamente o som. Era um trio com muito power & groove que infelizmente só gravaram meia dúzia de temas espalhados no segundo volume d'À sombra de Deus (CM de Braga, 1994) e Change your oil (Garagem; 1996). Foi daqueles tipos que conheci através dos zines e que nunca vi in loco, apesar de ter trocado zines e CD's por correio durante algum tempo. Acompanhei e divulguei o seu trabalho (underground) após o fim dos I.M.M. - a Chili Com Carne chegou a fazer um vídeo-clip do Mutate & Survive para SIC Radical com banda sonora da banda. Não sei bem porquê mas perdi o contacto do Filipe nos últimos dois anos e de repente aparece um tipo a dizer que me conhecia por causa dele, dos meus zines e isso tudo... fiquei a saber que tinham um novo projecto - esse tipo também fez parte dos I.M.M. ou percebi mal? o gajo estava com uma jarda e eu para lá caminhava. Trocamos galhardetes e eis o link para os Slate Machine - que estão virados para o Electro como poderão perceber depois de os ouvir.

Por fim, mais um caso de anormalidade cósmica, finalmente conheci - depois de 10 anos de correspondência zinista bilateral - o António Silva, gestor do "estaleiro". O seu trabalho, dedicação e profissionalismo estão à vista, a julgar pelo que pude desfrutar nesta visita. Obrigado por tudo!

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