sábado, 30 de abril de 2005

Entulho de Marte (in Underworld #15; Abr'05)

«You’re so near to Russia
So far from Japan (…)
You’re so sadly neglected
And often ignored (…)
Finland, Finland, Finland
Finland has it all»
- Michael Palin, Monty Python

Pelas gelos da Finlândia o que tenho descoberto! Uma inacreditável criatividade artística! Sobretudo, nas minhas áreas de preferência: música e bd – em relação a esta última, aconselho a visita ao Salão Lisboa 2005, a realizar entre 19 de Maio e 5 de Junho na Estufa Fria, em que a Finlândia será o país convidado. Sobre a música, a Finlândia, parece-me ser o país mais estranho que já conheci em relação à produção musical, se calhar tanto ou mais que o Japão!
Antes de entrar em pormenores, vamos a uma curiosidade histórica: em 1913 apareceram os primeiros tangos na Finlândia, música como sabemos mais dada aos suores sul-americanos do que às friezas nórdicas. Em 1930 começam as primeiras gravações de Tango finlandês (!) género tão popular e tão aceite como esquiar ou como ir à sauna! Imaginem, se em Portugal de repente o Cajun passasse a ser parte do nosso folclore. Eis um ponto de partida para não se estranhar que haja uma banda finlandesa como os Força Macabra (1) que cantam em português (sem saberem falar a língua!) porque são fãs das bandas Hardcore brasileiras dos anos 80! Ou isto para dizer que qualquer género ou subgénero é absorvido pelos finlandeses, sendo depois recriado, transformado, reciclado e cuspido como algo novo e fresco, ao contrário da produção anglo-saxónica dos últimos anos, perfeitamente insípida e decadente.
E directamente da História, dois CD’s que mostram que há muito que os finlandeses são “gajos estranhos”: Arktinen hysteria - Suomi-avantgarden esipuutarhureita (Love Records; 2001), ou se preferirem, “Histeria Árctica, primórdios da vanguarda finlandesa” uma colectânea que recolhe 13 faixas de música experimental entre 1961 e 1970, que começa com gravações de arrotos, passa pelo Noise/Electrónico já bastante sofisticado, Free-Jazz marxista (!), Pop-Blues casado com Prog, proto-Industrial, música improvisada/concreta, e conceptual warholiana (uma faixa repete ao nome do carismático presidente Kekkonen durante 6 saturantes minutos, a voz é de um senhor de uma mesa de voto que vai lendo os resultados nas eleições de 1962). Talvez não seja o melhor CD para qualquer pessoa começar a ouvir música finlandesa (ou seja o que for) mas a edição explica porque duas gerações de “noisers” como os conhecidos terroristas Pan Sonic tocaram em 2002 no Centro Cultural Kiasma (Helsínquia) com os velhos Tommi Parko e Erkki Kurenniemi, que nos anos 60 inventaram máquinas/instrumentos novos, como o “sexofone”.

Passions of Läsä Äijälä (Badvugum/BV2; 2004) é uma retrospectiva musical do trabalho de Läjä, músico que criou o Hardcore finlandês com os Terveet Kädet (trad.: Mãos Saudáveis) ainda hoje considerada como uma das melhores bandas de Hardcore pela Maximum Rock’n’Roll. Mas o homem teve e ainda tem uma actividade em Aavikon Kone ja Moottori (trad.: Maquinaria e Motores do Deserto) - um projecto industrial -, Billy Boy e Kolmas (Psychobilly-Noise? As ligações que faltavam entre Suicide e Pan Sonic?), Death Trip (drone-punk), Sultans (Blues?) e Leo Bugariloves (Pop bizarro). O CD juntou todos esse projectos cronologicamente em 78 minutos deste criador ímpar.
Se calhar, é por isso é que ainda hoje a experiência e vontade de brincar é uma característica dos músicos finlandeses. Por exemplo: Pylon Rocks and Whips (Boing Being, 2000) é música experimental por 2 criativos que se afundam em guitarras desafinadas criadoras de "landscapes", num violino malcriado e numa precursão disfuncional. O que permite sonoridades electro-acústicas estridentes que são coladas com alguma electrónica gerada por um antigo Commodore 64.
Estranho tudo isto? Excêntrico? Claro, que um país nórdico é rico. Afirmação grosseira, eu sei. Outra: como sabemos o dinheiro permite qualquer um ser excêntrico. Mas se não houver alguma espécie de vitalidade, mesmo num ambiente abastado, não serve de nada ser excêntrico - basta ver os países vizinhos que são modestos em criação artística... Não é o que acontece na Finlândia como já devem ter percebido, e a provar é que sejam editoras caseiras, “indies” ou comerciais, todas editam música nacional que além de terem uma produção sofisticada – competitiva com qualquer banda anglo-saxónica – ainda tem ideias a rodos, sem que com isso sejam “inacessíveis” ou “intelectuais” – palavras que preocupam os senhores desta revista! O compromisso é saudável e lembram-nos quando a música não passava exclusivamente por uma investida de Marketing como nos dias de hoje. Diz Jälä: “Na Arte e Música podes fazer o que te apetecer. Nada na vida é compulsivo, excepto morrer, infelizmente.”

Seguindo essa máxima eis alguns exemplos de bandas/discos que tive acesso:
Aavikko: Derek! (Humppa; 1999) é uma bateria e dois órgãos rascas que fazem a festa perfeita para amantes do Ska que não queiram ficar anacrónicos, ou, a única banda sonora perdoável nos carrinhos de choque da feira.
Cleaning Women: Pulsator (BV2; 2001) pode ser definido como “Post Novelty Noise Rock Funk Sci-fi Samba Metal Disco Hardcore Folk Industrial Zounds” e mesmo assim não sei se me esqueci de algo. Três pseudo-travestis pegaram em restos de material de limpeza doméstica (estendal da roupa, tambor da máquina de lavar, baldes, parafusos,…) e continuaram o trabalho que os broncos dos Therapy? deixaram a meio com o tema “Teethgrinder” - lembram-se? Por alto, lembram coisas soltas, independentemente da qualidade, de Rudimentary Peni, Einstürzende Neubauten, Filter, Secret Chiefs 3 ou Skeleton Key. Obcecados por limpeza, os CW são os responsáveis por este artigo – ao descobri-los, a vontade conhecer mais sobre a banda levou a este “micro-dossier”! Se vi o futuro do Rock? Sim! Um Rock transgénico com dramatismo da música tradicional e riqueza rítmica do Industrial. O novo CD Aelita (BV2; 2004) será criticado no próximo número!
Kometa: Like a light bulb (Badvugum/BV2; 2005) não é um sucedâneo manhoso quando se cruza o inimaginável: por um lado o peso “Black-Sabbathiano”, a barulheira, o arranca-e-para dos Melvins, de outro a sensibilidade Pop Beatliana, o nonsense, os metais e mudanças estilísticas dos They Might Be Giants. Pujante e inteligente, como qualquer banda que seja boa, sabe sintetizar os 50 anos do Pop/Rock com personalidade. 2/3 dos Cleaning Women estão cá metidos. Isso explica a coisa?
Stalwart: Torment nonplus (Badvugum/BV2; 2004) fica entre os Rapeman (do mestre Steve Albini) e o “Daydream Nation” dos Sonic Youth. Rock Sónico potente e seguro de si, quase todo instrumental nos seus 25 minutos. Obriga ao “replay”.
No metal, além de uma enorme produção industrial possível de encontrar nas resenhas desta revista, queria aqui só referir o EP Trollhammaren (Spikefarm; 2004) dos Finntroll, como exemplo da imaginação non-stop finlandesa mesmo no meio conservador do Metal. Mescla de Metal com Humppa (um tipo de Polka), resulta num som que faz lembrar os ajudantes do Pai Natal buéda cocados a trabalharem numa fábrica de prendas às 5 da tarde do dia 24 de Dezembro. Stressados, à mil à hora, ridículos. Os Finntroll usam o Black Metal para sodomisar o “Ska”. Cantam em sueco, a segunda língua “oficial” da Finlândia. Estúpido mas engenhoso, há momentos realmente giros.
Claro, que nem tudo o que vem de lá é bom, basta ouvir os recentes Voice of wilderness (Napalm Records/Recital) dos Korpiklaanis (uma imitação rasca do filão descoberto pelos Finntroll mas mais perto dos Mata-Ratos ou Sitiados) ou The monster show (Mayan/Megamúsica) dos Lordi (“White Zombie meets Gwar” mas mesmo mau!), ou ainda Kimmo Pohjonen (dizem que é um virtuoso do acordeão mas ao vivo não toca um peido) e para não falar dos execráveis HIM e Rasmus entre outros, mas temos de admitir que admirável que um país com metade da nossa população consiga criar tanto, em qualidade e quantidade, sem medo de comprometer o passado (o tradicional, a convenção) com o futuro (a tecnologia, a experiência).
Mais informações sobre música finlandesa em http://www.fimic.fi/

(1) Libe dos Subcaos já lhes escreveu umas letras e houve um split de ambas bandas que nunca chegou a sair.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Industrial XXX || SOUK


Noite Industrial XXX com DJ's Golden Shower e Ovelha Negra, no bar Souk, HOJE, das 23h às 4h. ENTRADA LIVRE.

O destaque para Golden Shower que irá passar só música de CD's que despreza: «ponho a melhor música daquele CD, depois é a despedida!!! Troco o CD por cervejas ou por outros CD's, não só da onda Dark, EBM, Industrial, Noise - por mim até podem trazer CD's de Abba que troco por aquelas merdas!» afirmou Golden Shower, numa noite de copos, «será uma noite de música desprezivel! hahaha, tragam CD's pra trocarmos!»

quinta-feira, 21 de abril de 2005

#19 : CapitãoCriCa Ilustrada 3/3

O terceiro e último número do «laboratório sincopado de texto + imagem», CapitãoCriCa Ilustrada vai ser lançado no bar Souk HOJE a partir das 22h.

A festa conta com o DJ GoldenShower e também o lançamento do zine Aqui no canto #3, de João Rubim & Cia. que também executam uma intervenção gráfica no bar com imagens geradas do zine.

O novo número da CapitãoCriCa Ilustrada edita trabalhos de bd de Khatarina Hausladen com Dice Industries [Alemanha], João Maio Pinto, João Rubim, Till Thomas [Alemanha], Rick Thor, Ondina Pires, Mike Diana [EUA], Pepedelrey, Francisco Sousa Lobo, Tatiana Gill [EUA], Drope Orbit, Pedro Moura & Marcos Farrajota, Joana Figueiredo, André Lemos, e ainda conta com Nuno Valério (capa), Miguel Caldas (texto com ilustrações de Daniel Maia), e André Ruivo e José Smith (ilustrações).

terça-feira, 12 de abril de 2005

Noite Neubauten || DISORDER


Para quem quiser continuar com os tímpanos lixados depois do concerto de Einstürzende Neubauten (hoje no Centro Cultural de Belém) poderá fazê-lo no Disorder (Cais do Sodré) com uma noite "Especial Neubauten" com os DJ's GoldenShower e Ovelha Negra (ambos responsáveis pelas noites Industrial XXX).